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sexta-feira, julho 29, 2005

Diário Matinal do Parasita 

Hoje de manhã acordei para trabalhar. Depois de ignorar durante meia hora os despertadores do meu telemóvel e iPAQ, finalmente decidi sair da cama quando se activou o da aparelhagem e começou a tocar aos altos berros "Feel Good Inc." dos Gorillaz. Estava a iniciar o meu duche de água fria enquanto cantava sole mio, quando para meu espanto deparei-me com um problema dramático: tinha acabado o champô. "Como é possível?! Não me lembro nada de ter acabado a embalagem!" Enrolei a toalha à volta da cintura e fui a correr à procura desse mágico sabão liquido nas outras casas de banho. Nada, nothing, niente, rien, nichts, nicles, népia... enfim, não havia um caralho dum champô na puta da casa, nem mesmo champô para cães ou gatos.

Desesperado, tento ligar ao porteiro para me ir comprar champô mas ele não estava lá em baixo. Então tive que ir a correr à rua com a toalha à volta da cintura (não tinha tempo nem paciência para andar a vestir para depois despir e vestir outra vez). Saio do prédio e vou em direcção à farmácia que está do outro lado da rua, junto à Caixa Geral de Depósitos. Vários carros buzinam, mas curiosamente não reconheço nenhum dos condutores. Quando chego à farmácia, sinto a farmacêutica a olhar para mim como se eu tivesse acabado de chegar de Marte. Antes que ela pudesse dizer alguma coisa, expresso-me com rapidez e eficiência: "Dona Gertrudes, dê-me dois frascos do meu champô sff". Ela franze as sobrancelhas e transforma a anterior expressão de surpresa numa de complacência, respondendo sem medo: "Repare Sr., eu nunca o vi na minha vida, o meu nome não é Gertrudes, e para além disso o Sr. é careca o que torna improfícua a aquisição do referido champô".

Fiquei em estado de choque e deixei cair a toalha. Apanhei-a do chão, voltei a pô-la à volta da cintura, e apalpei o meu próprio escalpe para confirmar a veracidade da declaração. Fixei-me momentâneamente nos olhos da farmacêutica e disse "Peço desculpa, foi engano. Bom dia." Quando caminhava desolado em direcção à porta, ouvi-a gritar "Mas olhe, temos aqui uns bons remédios para a alopécia!". Virei-me em câmara lenta, fiz um manguito, e sugeri cordialmente que ela fosse comer bosta de elefante.

"Não fique zangado comigo..." disse a farmacêutica num tom reconciliador "...a crise bate a todos e nós temos que tentar vender os nossos produtos. Se não quer remédios para a alopécia, deixe-me dizer-lhe que também temos preservativos XXXL para homens dotados como o Sr." Lembrei-me que tinha deixado cair a toalha, e admito que senti um certo orgulho ao ponto de me fazer sorrir e esquecer a desavença anterior. Comprei 10 caixas, e voltei a correr para casa.

Chegado a casa, tomei um duche rápido para tirar a poluição da rua. Vesti o fatinho, pus a gravata cor de rosinha, engraxei os sapatos, comi um Nestum Mel, e fui a correr em direcção à garagem porque já eram quase 9h. Entro no carro, ligo a ignição, e começo a pensar sobre qual será o caminho mais rápido. And then it strucks me: eu não tenho emprego, sou apenas um parasita da sociedade. Regresso a casa, desta vez mais feliz, tiro o fato, volto a pôr o meu pijama dos Gummi Bears, e retomo a rotina habitual das minhas manhãs: sono profundo.

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